CINTRASEUPOVO-II

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A HISTORIA DO PEQUENO

Passarinhos a voar...
Talvez alguns senhores se lembrem ainda quando,  rapazes, iam  armar á ratoeira de passaros. Eu lembro-me. Ia de manhã cedo, umas vezes sózinho outras com os meus colegas mais chegados porque armar á ratoeira era preciso ter confiança mesmo com alguns amigos , que por vezes era os próprios amigos que roubavam as ratoeiras . Cada um tinha seus quantos segredos... Mas ás vezes, também conheciam o dos outros e não deixavam de dar  lá uma visita... Como diz meu pai "conheciam o mapa", ou seja, sabiam onde se situavam todos os melhores sitios : onde havia boas uvas, figos, laranjas, melros...



Iam dar uma grande volta .  Mas temos de lembrar que nessa época, essas "brincadeiras" também permitiam umas boas patuscadas com esses passarinhos que se apanhavam.


Gaio
Lembro-me de ir armar as ratoeiras em grandes searas de trigo lá para os lados  do forno da cal , quase ao pé do sabugo  era uma hora de caminho , outras vezes para o lado do rio ferreira  rio esse que passava  pelo casal da granja do marquês , tinha muitos campos de trigo e junto ao rio tinha muitas arvores , enquanto se dava um certo tempo ás ratoeiras armadas no meio dos terrenos de trigo, havia tempo para armar á rede junto ao rio , montavamos
uma rede bem disfarçada num sitio bom onde os pássaros iam beber e puchava-se a rede eles ficavam lá dentro, havia de toda a qualidade de pássaros desde : pintasilgos, melros, biclacres, etc.depois também servia para fazer negócio.

pisco papa amarelo
Muitas vezes roubavam-me as ratoeiras, eram pequenos descuidos e zás ficava sem elas , era uma tristeza enfim lá tinha eu que repor o meu stock e ia roubar a outro era a vida , no meio de tudo isto também dava tempo de ir á xinchada quer dizer ( ir a algumas arvores de fruta sem o dono saber , mas era só para comer , durante a estadia ) pelo meio também se tomava um banho nos pegos do rio apanhava-se alguns peixes, cágados etc era uma vida feliz de puto.
Pardal
Mas também por vezes tinha alguns dissabores  quando faltava á escola ( pois não dava lucro nenhum ) a professora só sabia bater e  eu fugia da escola , mas quando a minha mãe ficava a saber comia das duas da minha mãe e da professora  ( nos  ferros do corrimão  é que arrefecia as mãos ) aquelas réguas ( a menina de cinco olhos ) doía como tudo .
Antiga escola do Algueirão-velho
lembro-me que um dia a professora  Maria Rosa  ( como sabia que eu morava lá para o meio do mato ) pediu-me que lhe  leva-se um bicho para fazer um estudo, eu com muito cuidado levei um mas foi vivo , mas quando ela foi abrir a lata eu disse , ( está vivo ) ela não fez caso , abriu e saltou uma cobra lá de dentro , ( parece que teve medo , pelos gritos que dava ) eu tive que apanhar a cobra e deitá-la  fora , depois bateu-me outra vez , nunca mais lhe levei nada  e disse-lhe se quizese mais bichos que os fosse apanhar, ( mal agradecida ).

menina de cinco olhos
Estes tempos não voltam mais, outros dias na altura das vindimas, lembro-me que  os ranchos de pessoas apanhavam a uva e levavam nos cestos por aquela encosta acima até  onde estava os bois com as carroças para levar para a adega do Crispim onde as pisavam para fazer o vinho, mas durante a viagens , que as carroças se deslocavam , da Barrosa até o Algueirão era pelo menos uma hora de caminho ( passo de boi )
então os rapazes assim como eu, uns distraiam o carroceiro e outros iam atrás e zás  tiravamos uns bons cachos de uvas ( era por uma boa causa ). Vida de miúdo era duro. Muitas vezes tínhamos que faltar á escola porque o frio era muito e naquele tempo nem sempre havia sapatos para calçar, íamos logo de manhã com o gelo nas poças de água  e era giro parti-lo com os pés , mas ficávamos gelados.

Casal  da Maria Dias
Lá ia eu para a escola com uma mala de saca de sarapilheira e ali punha um lápis e um caderno , pois porque livros poucos havia, o dinheiro era escasso, só tinha livros quando a professora os dava. ( também para que queria os livros não sabíamos ler :-)  ) eu não era muito reguila mas fazia as minhas partidas, um dos dias , passava sempre um homem  que vinha do Algueirão  passava pela Barrosa e descia a serra da Maria Dias a caminho de Cortegaça ,



havia algumas vezes escondia-mo-nos  atrás das grandes rochedos que havia na serra e zás  pedrada ao burro que o homem trazia , ( aquilo é que  o homem  corria atrás  do burro para o parar ) lembro-me de outras travessuras na altura  que o Eusébio jogava  anos 60  , os  putos juntavam-se todos e jogávamos á bola cada um tinha o seu ídolo e dizíamos ( eu sou o Eusébio , o Coluna , o  Aguas, Costa pereira etc,. ) um tinha a mania que rematava como o Eusébio e um dia fizemos uma boa partida , juntamo-nos todos e ficamos á espera que ele viesse então um estava na baliza  e pusemos uma bola com uma pedra grande dentro no sitio do penálti  quando ele chegou começamos a gritar chuta , chuta ele não resistiu correu  e chutou a bola nem se mexeu e ficou com o pé todo torto teve que ir ao endireita que havia em Lourel , 

esta era uma das partidas que fazíamos aos espertos.  Nesse tempo as mulheres iam lavar a roupa ao rio ou a uma pequena fonte que tinha lavadouro e sitio para o gado beber , mais tarde a câmara fez uns lavadores onde todas iam lá lavar e a cobertura era de chapas de lusalite , as mulheres estavam lá dentro a lavar os putos iam por trás e atiravam pedras para o telhado elas saiam de lá a correr  asustadas, e os putos todos a correr por aquelas terras abaixo, tínhamos a brincadeira como : o pião, a corda, ás apanhadas, ao esconde, á pata, ao berlinde , á bola , ao hóquei, á pedrada, fazia carros com os carrinhos de linha da mãe, fazia barcos da casca do pinheiro, atirávamos pedras aos perus do tio Chico Torres, íamos tourear os bois que o toureiro Manuel Conde tinha na arena, (muitas das vezes de noite para que ninguém nos visse ), brincávamos aos caoboys ,  

 também guardava duas ovelhas da minha vizinha e um borrego que era meu, falando novamente sobre os pássaros, na altura também tinha umas fisgas e afundas que utilizava para caçar pássaros, e correr com alguns gajos mais atrevidos que entravam no nosso território ( Barrosa ) , quando havia bailaricos no Algueirão lá estávamos nós ,


pois tínhamos que andar sempre juntos assim havia mais segurança, muitas das vezes a minha mãe dizia para eu tomar conta da minha irmã no baile , mas eu queria era dançar queria lá saber dela e assim ficou o gosto pela dança
o que hoje já fez 34 anos que estou no folclore.  Estas foram algumas  histórias do meu passado em pequeno. Muito mais á para contar talvez noutro tema.










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