CINTRASEUPOVO-II

terça-feira, 4 de outubro de 2011

TRAJAR DA NAZARENA


TRAJO DE  SENHORA

O traje da mulher nazarena é notável pela sua beleza e harmonia. De trabalho ou de festa, o traje reflecte não só a forte personalidade das nazarenas, mas adapta-se também à sua lida diária – amanho, venda e seca de peixe. É por isso prático, funcional e protector do frio e da maresia, permitindo-lhes movimentos desembaraçados, mas mantendo-as sempre compostas.
No traje de trabalho as mulheres usam saia de baixo branca, por cima desta 2 ou 3 saias de flanela colorida caseadas a lã; algibeira; saia de cima de caxemira ou terilene ; avental de “riscado”, de cor escura e com bolsos; casaco ou blusa simples; cachené; xaile traçado e chinelas ou descalças.
É, no entanto, em dias de festa e dias santos que a nazarena mostra toda a sua graciosidade e elegância, bem como a riqueza da família. Usa saia de baixo branca, por cima várias saias de tecido claro debruadas a crochet de várias cores (as famosas 7 saias ), cobrindo-as a saia de cima de escocês, de caxemira ou terilene plissada ou de chita azul com barra de veludo preto; rematando o conjunto, o avental de cetim artisticamente bordado (a cheio, a matiz, a “richelieu” ou ponto de cruz); blusa florida com mangas de renda ou casaco de veludo bordado na gola e nos punhos; cachené (lenço); capa preta; chinelas de verniz; cordão e brincos à rainha ou argolas de ouro. A nazarena mostra, assim, através do traje e com orgulho, a riqueza da família.

Menos conhecido por ser cada vez mais raro, é o traje das viúvas. Todo em preto, sem rendas ou bordados, sendo as saias de baixo cinzentas. Actualmente só as mulheres mais idosas continuam a usar este traje.

O traje nazareno feminino continua a ser usado no dia a dia pelas mulheres de mais idade, sobretudo as mais ligadas ao mar e à venda de peixe. O traje de festa é normalmente usado por todas na época do Carnaval (de 3 de Fevereiro – S. Brás – até 3ª feira de Carnaval ), Domingo de Páscoa e também pelos Ranchos Folclóricos da Nazaré.

É importante salientar que o traje nazareno feminino não parou no tempo, nem se tornou uma peça museológica; pelo contrário, tem acompanhado as variações da moda – saias mais curtas ou mais compridas; novos tecidos, cores e padrões. É um traje que renasce cada ano, tornando a nazarena única entre as demais.


TRAJO DE HOMEM

O traje do pescador era adaptado às condições da vida marítima, oferecendo liberdade de movimentos, sendo simultaneamente leve e agasalhador.
Os tecidos mais comuns para a confecção das camisetas e ceroulas que usavam, eram o escocês, a caxemira axadrezada e o surrobeco. Para completar o traje usavam barrete preto de lã e cinta preta enrolada à volta da cintura. No traje de trabalho, as ceroulas eram pregueadas e largas, com trenas de lã (atilhos) na bainha para poderem ser usadas justas, soltas ou arregaçadas, conforme as necessidades.

Em dias de frio usavam casaco de “retina”, de cores escuras, gola de bicos e bolsos chapados. Nem as ceroulas nem as camisas tinham bolsos e os objectos pessoais eram guardados no barrete. Normalmente o pescador andava descalço.

Nos dias de festa, o homem trocava as ceroulas por calças de surrobeco ajustadas atrás com presilha e fivela, vestia camisola de caxemira com preguinhas, pestanas e gola virada, decorada com três botões na diagonal e calçava tamancos (chocos). Como peças do agasalho e/ou luto, usavam a samarra, mas, sobretudo, o gabão ou varino.
Na voragem do tempo o traje masculino deixou de ser usado, sendo cada vez mais raro ver pescadores envergando as tradicionais ceroulas, camisas ou barrete. Apenas na época de Carnaval as denominadas “camisas à pescador” voltam a ser usadas. Actualmente são os grupos folclóricos da vila que nos dão a conhecer este traje.
De origem relativamente recente, a Nazaré “nasceu” do recuo do mar e do assoreamento progressivo da praia durante o século XVII, começando a ser conhecida e frequentada como praia de banhos apenas em meados do século XIX.

A população nazarena tem as suas raízes muito ligadas a outros marítimos como os Ílhavos e outros povos da Ria de Aveiro, que trouxeram com eles para a Nazaré não só novas artes de pesca, mas também o modo de vestir e até de falar. Ao longo dos anos essas novas maneiras foram aqui evoluindo, transformando-se e adaptando-se às necessidades da vida.

As sete saias fazem parte da tradição, do mito e das lendas desta terra tão intimamente ligada ao mar. Diz o povo que representam as sete virtudes; os sete dias da semana; as sete cores do arco-íris; as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas, míticas e mágicas que envolvem o número sete.

AS SETE SAIAS
A sua origem não é de simples explicação e a opinião dos estudiosos e conhecedores da matéria sobre o uso de sete saias não é coincidente nem conclusiva. No entanto, num ponto todos parecem estar de acordo: as várias saias (sete ou não) da mulher da Nazaré estão sempre relacionadas com a vida do mar. As nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e filhos, da volta da pesca, na praia, sentadas no areal, passando aí muitas horas de vigília. Usavam as várias saias para se cobrirem, as de cima para protegerem a cabeça e ombros do frio e da maresia e as restantes a taparem as pernas, estando desse modo sempre “compostas”.

A introdução do uso das sete saias foi feito, segundo uns, pelo Rancho Folclórico Tá-mar nos anos 30/40, segundo outros pelo comércio local no anos 50/60 e ainda de acordo com outras opiniões as mulheres usariam sete saias para as ajudar a contar as ondas do mar (isto porque “ o barco só encalhava quando viesse raso, ora as mulheres sabiam que de sete em sete ondas alterosas o mar acalmava; para não se enganarem nas contas elas desfiavam as saias e quando chegavam à última, vinha o raso e o barco encalhava”).

O uso de várias saias pelas mulheres da Nazaré também está ligada a razões estéticas e de beleza e harmonia das linhas femininas – cintura fina e ancas arredondadas, (esta poderá ser também uma reminiscência do traje feminino de setecentos que as damas da corte usavam - anquinhas e mangas de renda - e que pavoneavam aquando das visitas ao Santuário da Senhora da Nazaré), podendo as mulheres usarem 7, 8, 9 ou mais saias de acordo com a sua própria silhueta. Certo é que a mulher foi adoptando o uso das sete saias nos dias de festa e a tradição começou e continua até ao presente. No entanto, no traje de trabalho são usadas, normalmente, um menor número de saias (3 a 5).  
ISTO SÃO AS TAIS  MISTURAS  DO FOLCLORE